segunda-feira, 31 de julho de 2023

ZAIDE SOLEDADE (1934 - 2015)


ZAIDE SOLEDADE 1934-2015)

Seu nome todo era  Zaide Soledade dos Santos e Silva. Se estivesse viva, faria hoje (31) 90 anos.;


PERFIL: Zaide Soledade Santos e Silva, seu nome completo,  foi uma paraense que adotou, desde cedo, Macapá como sua terra, e dedicou a nós toda a sua vida e seu coração, educando gerações. Ela nasceu em Óbidos-PA, em 31 de julho de 1934. Faleceu no dia 06 de agosto de 2015, com 81 anos.

 

Ao chegar pela primeira vez em Macapá, aos 17 anos, em 1952, Zaide Soledade trouxe na bagagem a vontade de ser alguém na vida, sem grandes pretensões, mas as necessidades do pequeno território a levaram a trilhar outros caminhos que não estavam nos planos, e ela se tornou uma das educadoras mais importantes do Amapá.

 

Trabalhou inicialmente na Casa Leão do Norte, dos irmãos Zagury, o maior estabelecimento comercial da época na cidade. Em 1958 ingressou na área da educação e cultura do Governo do Território e nunca mais parou. Foi Diretora da Escola de Arte Cândido Portinari, diretora do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de Macapá, Ex-coralista do Coral Oscar Santos, conselheira do Conselho Municipal de Educação de Macapá, diretora do Teatro das Bacabeiras, conselheira do Conselho Estadual de Cultura por duas vezes e membro da diretoria da Confraria Tucuju. Zaide se revelou uma autêntica defensora da cultura de nosso Estado.

 

Sua vida sempre foi assim, cheia de surpresas e oportunidades. Em 1958 inicia o magistério em Tartarugalzinho, numa escola isolada e precária. “A escola era de madeira, coberta com cavaco, tudo era muito pobre, mas foi ali que me apaixonei pela profissão e descobri do que gostava de verdade, que é ensinar”, contou Zaide, para a jornalista Mariléia Maciel, numa entrevista.

 

Em uma das viagens para Macapá, onde recebia o salário, pago na época pelo Departamento Nacional de Estradas e Rodagens, outra porta se abriu. Passava em frente à antiga Radiofonia do Amapá, que funciona onde hoje é a Biblioteca Elcy Lacerda, e o jornalista Hélio Penafort a chamou, estava no telefone com o governador Pauxi Nunes, que ligava do Rio de Janeiro. “Ele me pediu o nome completo para ser enquadrada no Governo Federal e, por telefone, me tornei funcionária efetiva da União”, relembra.

 

E Zaide Soledade se apaixonou tanto pela educação pública, que foi estudar, pra aprender e ensinar melhor. Estudou Artes Dramáticas, Educação Física, Letras e Artes, entre outros cursos, inclusive na área de saúde. Foi professora de grandes personalidades atuais do Amapá, ajudando na formação e educação. Mas fora das salas de aula, Zaide exerceu papel importante na sociedade amapaense, foi conselheira de Educação e de Cultura, principal incentivadora para que a Guarda Municipal fosse criada em Macapá, deu nome ao Teatro das Bacabeiras, e foi atriz na primeira novela produzida no Amapá, Mãe do Rio, onde fez o papel de benzedeira.

 

Militou em favor de causas que considerava justas, como na luta dos educadores. Foi presidente da antiga Associação dos Professores do Amapá (APA), e integrou o Sindicato dos Servidores Públicos em Educação no Amapá (Sinsepeap) e o Centro Folclórico Amapaense.

 

Nota: O texto foi elaborado com informações sobre a professora Zaide, que já tinham sido publicadas antes pela jornalista Mariléia Maciel, por ocasião do aniversário da mestra, em 31 de julho de 2015.



quinta-feira, 27 de julho de 2023

MARCELO CANDIA (1916-1983)

 Marcelo Candia, construtor do Hospital São Camilo


          Se vivo  estivesse, completaria hoje (27), 107 anos. Mas não somos eternos; o que podem ser permanentes são as nossas ações. O químico industrial e empresário MARCELO CANDIA foi o construtor do Hospital Escola São Camilo e São Luiz, hoje, simplesmente, Hospital São Camilo.


PERFIL


          Empresário italiano, MARCELO CANDIA viveu em Macapá a partir de 1957. Construtor do Hospital Escola São Camilo e São Luis. Nasceu em Pórtice (Nápoles, Itália) em 27 de julho de 1916, e faleceu em 13 de agosto de 1983. Em 1939 forma-se em Química, e em 1943 em Ciências Biológicas. Em 1946 assume a direção da fábrica do pai, Camilo Candia. Através da amizade com o padre Aristides Piróvano, amadurece seu projeto de ser missionário leigo na Amazônia.     

          A primeira viagem a Macapá aconteceu em 1957 mas volta à Itália e resolve vender a industria, transferindo-se definitivamente para Macapá em 1965.

Em 25 de janeiro de 1961 lança a pedra fundamental do Hospital São Camilo, que ficou pronto em dezembro de 1970.  Em 3 de outubro de 1969 consegue, juntamente com o bispo D. José Maritano, a criação de uma comunidade das Irmãs de Nossa Senhora Menina do Hospital São Camilo.

            Em 1975 cede o hospital aos camilianos do Brasil. Em 31 de agosto de 1983 falece Candia em Milão-Itália. Em 23 de junho de 1995 abre-se no Vaticano o processo pela causa da Beatificação de Marcelo Candia, e hoje é um Beato, esperando a canonização papal.

terça-feira, 25 de julho de 2023

FESTA DE SÃO TIAGO

 FESTA DE SÃO TIAGO EM MAZAGÃO VELHO

 


 A HISTÓRIA DA FESTA

 

A atual vila de Mazagão Velho, situada a 36 km da sede do município (Mazagão Novo), às margens do rio Mutuacá, foi fundada em 1770 com o objetivo de abrigar 163 famílias de colonos portugueses vindos da costa africana em decorrência dos conflitos políticos-religiosos entre portugueses e muçulmanos que ainda por lá perduravam. Essas famílias e seus escravos chegaram no local por volta de 1771. A partir de 1777, em reverência a São Tiago, reviveram as batalhas que cristãos e muçulmanos travaram no Continente Negro.

 

O evento fundamenta-se na lenda que conta o aparecimento de São Tiago como o anônimo soldado que lutou heroicamente contra os mouros. A lenda enfoca vários personagens e passagens interessantes: Desde a conquista das terras africanas, os lusitanos, fervorosos católicos, tentaram obrigar os muçulmanos a se tornarem cristãos e aceitarem a fé em Cristo e o batismo de sua religião. Esse fato provocou a reação dos seguidores de Maomé que declararam guerra aos cristãos, estes liderados na época pelos capitães Atalaia, Jorge e Tiago.

 

“Puxo a espada da bainha, em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo. Juro pela cruz da minha espada, que so a colocarei na bainha quando pôr fim a essa batalha com a minha vitória”. Com estas palavras, o figurante faz, na tarde do dia 25, na frente da Igreja de São Tiago, o juramento de São Tiago, um dos momentos mais importantes e emocionantes da encenação.

 

Durante dias ocorreram batalhas acirradas com grande vantagem para os lusitanos que se aquartelaram heroicamente, resistindo aos constantes ataques dos mouros. Estes, chefiados pelo Rei Caldeira, vendo que não venceriam seus antagonistas, imaginaram e armaram uma cilada. Esta cilada consistia em pedir o fim da guerra e entregar aos capitães cristãos maravilhosos presentes em forma de iguarias.

 

Os cristãos receberam os presentes com grande surpresa e imediatamente desconfiaram que pudessem estar envenenados. Assim jogaram uma parte da comida na granja dos mouros, onde ficavam os animais, e guardaram a outra objetivando preparar uma contra-ofensiva. Sem nada saber da desconfiança dos cristãos os mouros precipitadamente confiaram na vitória da cilada que armaram e, à noite, deram um baile de máscaras, estendendo o convite aos cristãos que quisessem passar para o seu lado, sem que pudessem ser reconhecidos pelos seus superiores.

 

Os cristãos compareceram mascarados à festa levando a parte da comida que haviam recebido como presente dos mouros e a distribuíram aos seus inimigos que dançavam, bebiam e comiam.

 

Quando amanheceu o dia, algumas autoridades mouras que costumeiramente visitavam a granja depararam com os animais mortos e chegaram a ver os restos da comida oferecida por eles aos cristãos. Imediatamente correram para despertar os soldados, ainda ressacados da festa, e constataram um espetáculo pavoroso: muitos soldados jaziam mortos por haverem comido o presente dos cristãos e entre eles estava o Rei Caldeira, seu Chefe supremo.

 

O filho do Rei Caldeira, denominado Menino Caldeirinha, assumiu o trono. Na manhã do outro dia os cristãos aproveitaram o desespero e a desorganização de seus inimigos para atacá-los.

 

Porém, antes do ataque eles se confessaram e prepararam-se espiritualmente fazendo um juramento. Daí, movidos pela fé, iniciaram uma luta sem precedentes, só amenizada por volta do meio-dia, quando os mouros, aproveitando o descanso dos cristãos, mandaram um vigia - o Bobo Velho - para tentar persuadir seus conterrâneos que haviam se convertido ao Cristianismo a retornarem para seu lado. Além disso, o Bobo Velho poderia espionar o estado em que se encontrava a força dos seus inimigos. Os cristãos perceberam que o Bobo Velho era mais uma trama dos mouros, mas mesmo assim deixaram-no se aproximar do acampamento. Quando ele chegou perto, apedrejaram-no jogando qualquer objeto que encontravam a seu alcance, que desesperado corria assustado.

 

No fim da tarde, antes de iniciar a batalha, os cristãos mandaram o Atalaia espionar os mouros. O Atalaia arrebatou a bandeira do acampamento mouro, mas foi descoberto pelos inimigos que o feriram. Mesmo ferido de morte o Atalaia conseguiu chegar próximo de seu acampamento e lá atirou a bandeira a seus companheiros dando gritos de alerta. Em represália, os mouros decapitaram-no, espetaram sua cabeça em uma vara e colocaram-na junto ao muro do acampamento cristão para que estes ficassem com medo. Ainda com planos para vencer os cristãos, o rei Caldeirinha mandou que seus soldados fizessem uma passeata ao redor do acampamento a fim de raptar as crianças cristãs, que curiosas, foram facilmente apanhadas.

 

Depois do êxito do plano elas foram vendidas e o dinheiro arrecadado serviu para comprar armas e munição. Quando os cristãos souberam do roubo de suas crianças iniciaram uma violenta batalha carregada de grande heroísmo e fé. O rei Caldeirinha ainda propôs a troca do corpo do Atalaia (que haviam levado para seu acampamento) pela bandeira moura em poder dos cristãos. Estes aceitaram a troca mas na hora receberam o corpo e não entregaram a bandeira. A batalha recomeçou com essa atitude e, ao entardecer, os cristãos pediram a Deus que prolongasse o dia a fim de que pudessem vencer tão desesperada luta.

 

Assim, parecia que o dia estava se prolongando e os cristãos foram vencendo as batalhas que se sucediam até que o jovem rei Caldeirinha foi aprisionado, enquanto seus soldados fugiam. Mortos muitos infiéis mouros, os cristãos rejubilaram-se pela vitória agradecendo a Deus e, em passeata, levaram o rei mouro vencido.

 

À noite, depois de tudo, organizaram um baile chamado “Vomonê” ou “Vominê”,, que vem simbolizar a vitória alcançada por eles.

 

 BAILE DE MÁSCARAS

(Fernando Canto)





As máscaras, na Festa de São Tiago, são usadas no Baile de Máscaras, que ocorre no dia 24 de julho, e é um dos aspectos ritualísticos mais importantes, por simbolizar  emoções e cenas de regozinho a vitória que os mouros julgavam ter obtidos sobre os cristãos. O baile ocorre após terem oferecido comida envenenada aos cristãos, visando dar oportunidade aos que quisessem passar para seu lado.

 

É um baile de homens onde todos estão fantasiados, mas às mulheres e crianças é proibida a participação.  Eles dançam no sentido inverso ao do relógio até ao amanhecer. Ao meio dia, um personagem mascarado chamado “Bobo Velho” passa três vezes no terrritório cristão e é apedrejado pela assistência, pois se trata de um espião mouro tentando obter informações.  Na cena do “rapto das criancinhas cristãs”, os “Máscaras”, dezenas de atores populares, surgem fantasiados, assustando e arrebatando olhares de medos das crianças que os assistem.

 

A máscara parece ser uma transferência de energias que tem o sentido de mutação e que transcende o drama. Já o “baile” é uma festa dentro da festa. É uma cena de um drama em que paradoxalmente ocorre a oportunidade de se desregrar (pela ingestão do álcool). Mas é quando se subverte a  realidade constituída, pois a organização social do drama tem seus apelos e sanções: se há noticia de uma outra festa na vila, os “Mascaras” vão até lá e acabam com ela. Fazem respeitar as normas da tradição e tecem críticas à realidade através de um grande boneco mascarado chamado “Judas”, que todo ano muda de nome, conforme o momento histórico e a decisão dos que o confeccionaram.

 

O “Baile de Máscara” é uma forma de representação do potencial subversivo das festas, não só pela crítica, mas pelo dançar constante na direção inversa ao do ponteiro do relógio, tratando-se de um embuste contínuo com o tempo, quando os brincantes giram e vão se espiralando, afastando o tempo linear e vivendo a direção da memória num tempo mítico, onde os acontecimentos heróicos se repetem pelos rituais.

 

Culturalmente as máscaras de Mazagão Velho podem ser vistas como um aspecto místico da festa porque traduzem o tempo, a memória e o ritual que organiza a memória, a história e a sobrevivência da sociedade. Assim a cultura da festa se efetiva porque suas crenças, gestos e valores são oriundos de um processo de criação de homens e mulheres, e que são partilhados por todos, por meio de juízos de valor e símbolos.

 

A utilização da máscara na Festa de São Tiago é de disfarce de aparência e de jogos estratégicos. E para entender melhor esse processo nada como pôr no rosto uma caraça, pois assim cada um assumirá também o papel que subverte e mete medo, e que também diverte, mas, sobretudo, que une e corporifica os valores culturais daquela sociedade. (Publicado no jornal Folha de Mazagão, de 25 de julho de 2011).

 

 

ROUBO DE CRIANÇAS



No dia 25, dia final das encenações, acontece a representação da batalha final entre Mouros e Cristãos. É a data considerada mais importante para organização, o ponto alto da festa. Na encenação, os cristãos usam  indumentárias brancas, enquanto os Mouros vestem uniformes vermelhos.

 

De acordo com o enredo histórico, muitos soldados e oficiais mouros morreram envenenados depois da ação dos cristãos no Baile das Máscaras, entre eles o rei Caldeira. O exército muçulmano estava enfraquecido. O falecido rei caldeira fora substituído pelo filho, o Caldeirinha, sagrado líder dos mouros, apesar de ainda ser criança.

 

A história conta ainda que depois de crescer e começar de fato a comandar os mouros, ordenou que seus soldados roubassem crianças cristãs que curiosas, foram facilmente capturadas. Depois do êxito do plano as crianças foram vendidas e, com o dinheiro os mouros compraram armas e munição., para aumentar seu poder bélico. As crianças que assistem ao espetáculo são apanhadas simbolicamente pelos mascarados, mas tudo como uma brincadeira para não assustá-las, já que os pais ou responsáveis podem “resgatá-las” das mãos dos atores fantasiados com um pedaço de papel, simbolizando a compra que consta na lenda. Assim, sem querer, os pais passam a ser os compradores de seus próprios filhos.

 

 

PASSAGEM DO “BOBO VELHO” E MORTE DE “ATALAIA”

 

O roubo das crianças iniciou uma sangrenta batalha, que foi amenizada ao meio dia. Foi quando os mouros enviaram um espião par ao acampamento dos cristãos: o “Bobo Velho”. No entanto, os cristãos perceberam a presença do intruso e o expulsaram atirando-lhes paus, pedras e outros objetos que encontravam pelo chão.

 

Na encenação mazaganense, um cavalheiro vestido com roupa grossa e capacete cavalga três vezes pelas ruas da cidade e o público pôde atirar bagaço de laranja para reproduzir a apedrejamento dos cristãos. Mas nem sempre essa regra é seguida ao é da letra e há registros de ferimentos causados por pedradas no figurante que faz o papel de Bobo Velho.

 

Ainda, segundo a epopéia, os seguidores de Cristo também enviaram um espião para as trincheiras mouras: o Atalaia. Ele conseguiu arrebatar a bandeira inimiga, mas foi descoberto e atirado pelos soldados inimigos. Mesmo ferido gravemente, o atalaia conseguiu se aproximar do aquartelamento cristão, para onde atirou o estandarte do povo inimigo. Em represália, os mouros o decapitaram e colocaram a cabeça na ponta de uma lança para intimidar os cristãos. O fim do Atalaia também  é encenado na frente da Igreja, com a morte cênica de um figurante.

 

 

APARIÇÃO DE SÃO TIAGO E VITÓRIA CRISTÃ



 

O próximo episódio da tradição é a proposta do rei Caldeirinha de trocar o corpo do Atalaia pela bandeira moura. Os cristãos aceitaram a proposta. Porém, receberam o corpo  de seu soldado, mas não entregaram a bandeira inimiga, como acertado. Os combates recomeçaram com essa atitude, desta vez com mais intensidade. O guerreiro Tiago jurou a Deus que venceria a guerra para que a palavra do Senhor fosse obedecida:

 

“Juro pela cruz da minha espada, que se não vencer essa batalha, serei morto e degolado”, são as palavras do figurante para dar vida ao juramento.

 

Ao anoitecer, o exército de Cristo pediu a Deus para tornar o dia mais longo e, sgundo a lenda, foi atendido. Foi quando São Tiago apareceu e ajudou os cristãos a vencerem sucessivas batalhas, com ajuda daquele que era, até então, um guerreiro desconhecido. As tropas mouras foram perecendo e, por fim, o rei Caldeirinha foi capturado e seus soldados fugiram do front. Era a consolidação da vitória cristã, comemorada com a dança do Vominê pelos soldados aliados.

 

Todos estes fatos são minuciosamente reproduzidos no ultimo dia de festa, marcando fim da representação da Batalha e da parte religiosa da Festa de São Tiago.

 

 

“VOMINÊ”, A DANÇA DA VITÓRIA

 

Adendo forte do folclore da festa, o Vominê é a dança que reproduz a comemoração da supremacia dos cristãos após a consolidação da vitória sobre os mouros. Durante os 12 dias da festividade é dançado em residências de famílias tradicionais de Mazagão Velho por volta de cinco horas da manhã, nas alvoradas festivas sempre acompanhadas por salvas de tiro. À tarde é a vez das crianças participarem  da dança.

 

Como forma de agradecimento, a família anfitriã oferece um lanche, quase sempre biscoito com suco ou café para as crianças e abstêmios e também, em alguns casos, bebida alcoólica para os dançantes adultos. Uma dessas bebidas é a gengibirra, um tipo de batida feita com gengibre – também servida na dança do Marabaixo, em Macapá. Aliás, as semelhanças com a dança tradicional da capital são muitas.

 

No Vominê, a exemplo do Marabaixo, o som da caixa comanda o ritmo da melodia que serve de plano de fundo para letras.  Na verdade, rimas feitas de improviso, uma espécie de repente amazônico, com um refrão que poderia ser descrito como um som sustenido da vogal  “e”. No caso da canção mazaganense, quase há referencia ao dono da casa onde está sendo feito o ritual:

 

“Cadê o dono da casa,

Com ele eu quero falar.

Estou com a garganta seca

Um café e uma cachaça eu quero tomar”

 

Esta, acima, é um dos repentes, que em Macapá chamamos de “Verso ladrão”.

 

As ladainhas, as salvas de tiro, as alvoradas festivas e o Vominê ns residências da vila são os traços mais importantes da Festa de São Tiago, e durante oito dias são símbolos que antecedem o ponto máximo da festa: a encenação teatral da batalha entre mouros e cristãos dividida entre os dias 24 e 25 de julho. (Publicado no jornal Folha de Mazagão, de 25 de julho de 2011).

 

 

MISSA CAMPAL


 

Na manhã de 25 de julho, o que se vê são milhares de pessoas na procissão e na Rua Senador Flexa, que passa na frente da igreja. São os visitantes, a renovar a fé ou para ver a encenação. A procissão acontece por volta das 8h, depois da missa campal. Assim as imagens de São Jorge e São Tiago percorrem  as principais ruas de Mazagão Velho, com os cavalheiros vestidos a caráter e montados em seus cavalos. Nesse momento os fiéis aproveitam para agradecer e/ou fazer suas promessas a São Tiago.

 

A festa é tão concorrida que chega a faltar hospedagem, nada que a hospitalidade mazaganense não resolva.

 

 

Uma festa só para as crianças

 

Depois do dia 25 de julho, quando encerra a Festa de São Tiago feita pelos adultos, é hora das crianças aprenderem a tradição que um dia será responsabilidade delas perpetuarem. Durante os dias 27 e 28 de julho, respectivamente elas também encenam a entrega dos resentes e a batalha entre mouros e cristãos, “ montadas” em cavalinhos enfeitados com papel de seda e feitos de miriti, madeira comum na região. Também há a alvorada festiva e a dança do Vominê, enfim, tudo o que os adultos fazem.

 

A Festa de São Tiago Mirim também tem direito aos  uniformes brancos e vermelhos do smouros e cristãos. E a tradição é levada a sério pelas crianças, mesmo quando há a preocupação dos pais com que elas aprendam desde cedo a respeitar a figura de São Tiago.

 

 

Nota: a pesquisa envolveu informações de Gabriel Penha, Edgar Rodrigues e Fernando Canto. Não consegui a  identificação dos autores das imagens. Se alguém identificar, por favor entre em contato com a gente.

SEBASTIÃO MONT'ALVERNE, 7 ANOS DE SAUDADES

A ARTE MUSICAL DE SEBASTIÃO MONT'ALVERNE




          Edgar Rodrigues


          Ele nos deixou em 25 de julho de 2016,, aos 71 anos. Foram décadas dedicadas à cultura musical, com seu violão mágico, e a mente privilegiada desse virtuose instrumental. 


JOSÉ SEBASTIÃO DE MONT’ALVERNE nasceu em Belém (PA), em 19 de março de 1945, faleceu em Macapá, em 25 de julho de 2016.  Filho do fazendeiro José Jucá de Mont’Alverne e da professora Aracy Miranda de Mont’Alverne. Passou a infância na fazenda Redenção, às margens do Rio Araguari, propriedade de seu pai. Foi alfabetizado por sua mãe, com a qual fez todo o ensino fundamental, antigo primário. Aprendeu a tocar de ouvido com o violão de Dona Aracy, um Di Giorgio que ela guardava no guarda-roupa. Tocava escondido; a mãe chegou a proibi-lo, já que ser tocador nos tempos do então Território Federal do Amapá era “coisa de boêmio” e ela queria que o filho estudasse.

Passou a morar em Macapá a partir dos 12 anos. Mas aos nove, o então menino, que tinha fascínio pela música, já era um violonista autodidata. Aprendeu só, mas ouviu muitos conselhos para aprimorar-se, como o do seu tio, Jurandir, que lhe disse para nunca bater nas cordas e sim tocá-las. Se inscreveu no programa “Clube do Gurí”, da Rádio Difusora de Macapá, e fora incentivado pelos irmãos músicos Nonato e Oleno Leal, além de Walter Banhos. Logo o menino estava solando, tornou-se um exímio violonista e entrou para o Regional da emissora, acompanhando cantores na rádio como Miltinho, Rosimary e Walter Bandeira.

Ainda jovem, tocou em Belém, com o cantor Orlando Pereira e a banda The Kings, que se apresentavam nos clubes do Remo, Paysandu e Tuna Luso Brasileira. Também  foi integrante da banda “Os Cometas” (que tinha dona Célia, esposa e mãe de seus filhos como vocalista), que fez muito sucesso no Amapá. Fã do violonista carioca Baden Powell, Sebastião Mont’Alverne fez duo com muitos instrumentistas famosos, entre eles Sebastião Tapajós, Salomão Habib, Paulo Porto Alegre e Nego Nelson.

           Ele e o músico Aimoré Nunes Batista, eram os únicos afinadores de piano do Amapá. Em 1980, ele fez um curso em São Paulo, que o habilitou para a função. Zeca também foi, em 1962, fotógrafo da campanha do ex-governador do Amapá, Janary Nunes, a deputado. Sebastião foi um dos fundadores do “Bar do Gilson”, que reúne a nata dos músicos de Belém. Professor de violão Clássico por cinco anos na Escola Walkíria Lima, chegou ao cargo de diretor. Também dirigiu a Escola de Música Almir Brenha.

          Em 2001, Sebastião participou do projeto “Pedagogia Sabiá”, que ensinava música nas escolas da rede pública. Caboquinho trabalhou também na Universidade Federal do Amapá (Unifap). A Prefeitura de Macapá (PMM) o homenageou, em 2005, com uma Placa, pela grande contribuição à arte e à cultura do Amapá. O Conselho Estadual de Cultura o honrou, em 2008, com a “Medalha à Cultura”, pela sua dedicação à música.





segunda-feira, 24 de julho de 2023

REINALDO DAMASCENO, PROFESSOR E ENTOMOLOGISTA

 REINALDO DAMASCENO (1916-1976)


  
  Hoje (23) ele completaria 107 anos se estivesse vivo. Pode ser muito tempo de vida para um ser humano normal; mesmo assim, e em se tratando de REINALDO DAMASCENO, ainda seria pouco tempo para compartilhar, com a população da cidade que ele resolveu adotar também como sua, seus saberes sobre as ciências e os aspectos humanos de cada cidadão.


PERFIL

REINALDO MAURICIO GOLBERT DAMACENO, ou simplesmente REINALDO DAMASCENO, professor e entomologista, morou no Amapá desde 1961, Ele nasceu em 24 de julho de 1916 em Igarapé Açu (Pará). Faleceu em Macapá, em 14 de agosto de 1976. Foi casado com Natalícia Menezes Damasceno, com quem teve duas filhas. Graduou-se em Biologia, iniciado em Belém e concluído no Rio de Janeiro, e em Entomologia pela Fundação Rockfeller, em São Paulo. Em 1942 é nomeado para o cargo de Assistente Técnico em Entomologia do Instituto de Patologia Experimental Evandro Chagas, em Belém. Em 1950 é nomeado diretor do então Serviço Nacional da Malária (SUCAM), do Pará..

De 1961 a 1967 foi diretor da SUCAM no ex Território Federal do Amapá, onde continuou seu sonho de pesquisa dos insetos e de educador, lecionando biologia e higiene, de 1968 a 1975, em vários estabelecimentos, entre os quais o Colegio Amapaense e o Instituto de Educação do Território do Amapá (IETA). Por sua contribuição para com a educação do então Território do Amapá, após sua morte, foi homenageado emprestando seu nome a uma escola da rede estadual de ensino. Paralelamente, ele reunia material cientifico, principalmente sobre malária, filariose e leishmaniose. 

Conhecedor da importância da Amazônia como acerto inigualável da biodiversidade, contatou com o governador Ivanhoé Martins, expondo a ideia de criar um museu de História Natural do Amapá no qual foi integralmente atendido e concretizado, com a construção e inauguração do Museu de História Natural Angelo Moreira da Costa Lima, em 6 de janeiro de 1974, sendo nomeado seu primeiro diretor até 14 de agosto de 1976. Neste período implantou um fecundo trabalho de estruturação técnica do referido museu e deu continuidade à pesquisa entomológica até seu falecimento, no Hospital São Camilo, em Macapá, aos 60 anos.[1]

           

 



[1] IEPA 2006, revista, 2006, Macapá, edição n 59. Pág. 5


sexta-feira, 14 de julho de 2023

PERSONALIDADE: MENDONÇA JÚNIOR (1846-1904)

 MENDONÇA JÚNIOR (1846-1904)


Hoje (14/07/2023) lembramos os 178 anos de nascimento do jornalista e escritor (poesia e crônica) amapaense, MENDONÇA JÚNIOR. Seu nome completo foi Joaquim Francisco de Mendonça Júnior.  Nasceu em Macapá, aos 14 de julho de 1846.. Morreu em Belém, Pará, aos 58 anos, em 4 de agosto de 1904.

 Juntamente com José Antonio de Cerqueira, fundou o primeiro jornal de Macapá (Pinsonia, 1895), que teve duração efêmera (dois anos e meio). Cerqueira financiava a publicação do jornal, editado em Belém. Em 1897 trouxe para Macapá impressora.

            Ele usava o pseudônimo de Múcio Javrot para identificação de seus trabalhos literários. Era amigo do  coronel José Coriolano Jucá, intendente de Macapá, e do governador do Pará, Lauro Sodré. Entrou para a Academia Paraense de Letras, atuou na política como Deputado Estadual pela Assembleia Legislativa do Pará. Criou o grupo de intelectuais de Macapá, do qual faziam parte Alexandre Vaz Tavares, José Antonio de Cerqueira, Raimundo Álvares da Costa, Leão Zagury e o coronel Leopoldo Machado.

            - JORNAL PINSONIA. Macapá; extinto. Lançamento: 15 de novembro de 1895 em Belém, e a tipografia, que era de Belém, foi transferida para Macapá em 14 de julho de 1897 passando o Pinsonia a ser impresso em Macapá.. Hoje só resta uma peça desse maquinário: o cutelo, que está exposto em frente à Biblioteca Pública Estadual.


Não dispomos de imagens de Mendonça Junior. Abaixo, exemplares do PINSONIA, existentes nas Biblioteca Pública Elcy Lacerda, em Macapá.



quarta-feira, 12 de julho de 2023

FLORESTA ESTADUAL DO AMAPÁ, 18 ANOS DE CRIAÇÃO

 


    
Macapá, quarta-feira, 18 de julho de 2923
FLORESTA ESTADUAL DO AMAPÁ, 18 ANOS DE CRIAÇÃO

       Ela foi criada há 18 anos atrás (12/07/2006) pela Lei Estadual nº  1029/2001, abrangendo terras  dos municipios de Amapá,  Calçoene, Ferreira Gomes, Mazagão, Porto Grande, Serra do Navio e Tartarugalzinho, num total de 236.614 km2.

FLOTA AMAPÁ:

Criada em 12 de julho de 2006, pela lei nº 1.028/06, do Governo Estadual (Governador Waldez Góes), abrangendo  áreas dos municípios de Amapá, Calçoene, Ferreira Gomes, Mazagão, Oiapoque,  Pedra Branca do Amapari, Porto Grande, Pracuúba, Serra do Navio e Tartarugalzinho, visando o uso sustentável mediante a exploração dos recursos naturais renováveis e não renováveis de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, “de forma socialmente justa e economicamente viável”.

A Floresta Estadual do Amapá compreende uma área descontínua, estimada em 23.694 km2, com as seguintes referências geográficas em maior conectividade: ao Norte com a Reserva Indígena do Uaçá; ao Sul com a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do rio Iratapuru e o Assentamento Agroextrativista do Maracá; ao Lesdte com a Br-156 e a Oeste com o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque e a Floresta Nacional do Amapá.

Segundo o artigo 3 da lei de criação, a Floresta Estadual do Amapá fica szujeita ao regime de Unidades de Uso Sustentável estabelecido pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC).





ANTONIO PORTUGUÊS (1929-2018)

 Quarta-feira, 12 de Julho de 2023

ANTONIO PORTUGUÊS (1929-2018)



          Se estivesse vivo, faria, hoje 95 anos. Um dos primeiros sorveteiros de Macapá, ANTONIO PORTUGUÊS (Antonio da Silva Pereira nasceu em Portugal, em 12 de julho de 1929. Morreu em Macapá, aos 89 anos, em 10 de dezembro  de3 2018.


Perfil: 

Mais conhecido como “Antonio Português”, Antonio da Silva Pereira  foi pioneiro no comércio de sorvetes em Macapá. Nasceu em Várzea do Douro, no Estado de Marco Cavanazes, distrito do Porto, nasceu no dia 12 de julho de 1929, e faleceu em Macapá-AP, em 10 de dezembro de 2018. Filho de Torquato da Silva e D. Dulce Rosa Pereira da Silva, comerciantes de frutas.

Veio para o Brasil pelo navio "Hilary" (foto), chegando em Belém, no dia 16 de março de 1953, e dias depois embarcou no iate "Araguary", chegando a Macapá, às 10 horas do dia 29 de março de 1953, seguindo para a localidade de Ipanema, nas ilhas do Pará, onde trabalhou com seus tios da tradicional família Silva.

Dois anos depois, retornou para Macapá em busca de um emprego e recebeu proposta do Dr. Daniel, gerente da ICOMI, e de seu primo Raimundo Silva. Ficou indeciso mas, na conversa que manteve com o Dr. Daniel, foi aconselhado que a família estava em primeiro lugar. Se não desse certo, que o procurasse novamente. Foi trabalhar na Estância Brasil da firma C. Matias & Cia Ltda., situada na Rua Leopoldo Machado, onde permaneceu durante 10 anos como motorista, encarregado e gerente. Em 1965 iniciou a construção de sua casa e, como os recursos eram poucos, foi trabalhar como encarregado de uma embarcação de 40 toneladas, comerciando látex e castanhas oleaginosas durante 19 meses.

Depois dessa experiência, partiu para o seu próprio negócio, instalando em Macapá, em 31 de março de 1968, a Sorveteria Santa Helena, transformando-a em um ponto de encontro da sociedade. Está no negócio desde o ano de 1967.

Casado com D. Maria Rosa Matias Pereira no dia 6 de setembro de 1958, na igreja da vila Lusitana, no Município de Afuá a qual lhe deu os filhos Paulo Alberto, José Torquato, Fernando Antônio, Dulce Rosa, Carmelina, Márcia Helena e Arlindo César e Carlos Augusto (falecidos). É católico praticante, fez o Cursilho de Cristandade, foi coordenador do setor dos Cursilhos da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Como bom português, é torcedor do Vasco.

Aposentado em novembro de 1995, seus filhos continuam a manter a principal atividade de Antonio Português, que é a Sorveteria Santa Helena.